sábado, 8 de maio de 2010

8 de Maio: Dia Mundial do Comércio Justo


O comércio justo não morreu! A comercialização dos produtos com o selo do comércio justo (Fairtrade) precisa de ser reinventada para cumprir a sua missão e resistir à concorrência e à crise económica.

No último ano e meio, fecharam seis das dez lojas de comércio justo que existiam em Portugal. Cidades como Lisboa, Barcelos e Guimarães ficaram sem as chamadas 'lojas do Mundo', atribuindo o facto aos preços elevados dos produtos, à concorrência das grandes superfícies e ao marketing social de marcas que anunciam produtos com percentagens que revertem a favor de uma causa ou organização. Por outro lado, os portugueses não têm o mesmo poder de compra que os cidadãos do Norte da Europa ou da América do Norte, onde o conceito do comércio justo está mais desenvolvido. Noutros casos, existem importadores de alimentos do comércio justo para um nicho de mercado gourmet, o que faz encarecer ainda mais o produto.

As lojas de comércio justo do Porto, Braga, Almada, Damaia e, mais recentemente, Aveiro ainda resistem, e duas delas - a Mó de Vida, no Pragal e a Ecos do Sul, na Damaia - apostam no desenvolvimento de um comércio justo de proximidade, estabelecendo parcerias com produtores locais ou de outras regiões do pais. "Não faz sentido mandar vir mel do Equador quando existem produtores portugueses aos quais podemos e devemos comprar", afirma Carlos Soares, da Ecos do Sul.

Outra alternativa para as lojas, passa pela dinamização de sítios na Internet, onde os produtos do comércio justo possam ser adquiridos facilmente online e distribuídos directamente ao consumidor, sem os encargos fixos de manter uma loja física aberta. Existem vários casos de sucesso a nível internacional.

Veja-se, também, o caso do café, um dos produtos 'bandeira' do comércio justo. Há 10 anos, a queda do preço nos mercados internacionais colocou em risco a sobrevivência de milhares de pequenos produtores e centenas de cooperativas de cafezeiros de países em desenvolvimento. Muitos salvaram-se graças ao sistema de pagamento bonificado (10% acima do preço de mercado) e adiantado criado pelas organizações do comércio justo para proporcionar estabilidade aos cultivadores de café.

Apesar de todas as campanhas, o café do comércio justo só representa 2,5% da indústria cafezeira mundial (dominada por gigantes como a Nestlé e a Kraft) e recentes inquéritos revelam que mais de metade dos agricultores que dele dependem não têm o suficiente para sustentarem as suas famílias durante o ano inteiro. Seria necessário aumentar a remuneração dos produtores, mas a FLO (Fairtrade Labelling Organization International) - entidade responsável pela fixação do preço - receia que um eventual aumento lhe faria perder compradores, o que, por seu turno, levaria a uma redução do número de cultivadores beneficiados.

Assim, a FLO preferiu adoptar outras soluções, como a de envolver grandes distribuidoras no processo, melhorando a formação técnica dos agricultores e facilitando-lhes empréstimos. Isto é, levar as multinacionais a praticar a essência do comércio justo. A partir deste ano, 40% do grão de café distribuído através da rede do comércio justo nos Estados Unidos, é assegurado pela cadeia Starbucks. A empresa converteu-se no primeiro comprador mundial deste tipo de café.

No país vizinho, a Starbucks España anunciou que, a partir de Março de 2010, todo o seu café terá o selo do comércio justo. Em Portugal, a Equação - a maior operadora nacional de comércio justo - intermedeia a compra de café verde efectuada à cooperativa italiana CTM Altromercato pela Delta. A torrefacção é feita em Portugal e o café é vendido em co-branding como marca do comércio justo.

Na sua essência o conceito de justiça social associado ao comércio justo não morreu. O selo do comércio justo não só garante a qualidade do produto, como também que a sua produção e a sua comercialização cumprem uma função social, permitindo que os agricultores e as suas famílias possam viver dignamente do seu trabalho, respeitando o meio ambiente e promovendo a sustentabilidade.

Seja Gourmet!

In Expresso

0 comentários:

Qualidade à Mesa   © 2008. Template Recipes by Emporium Digital

TOP